2 de jul. de 2016

Raiva e admiração no transporte público

Assim como boa parte do povo brasileiro, diariamente eu enfrento aquela coisa chamada “transporte público”. E diariamente eu vejo aquilo que não tem outra forma melhor de chamar do que “imagens de dor e sofrimento”.

Acredito que o ônibus (ou qualquer outra forma de transporte público) tem o poder de liberar o pior que existe dentro do ser humano. 

Mais de uma vez eu já tive que falar em alto e bom som “PESSOAL, ALGUÉM PODE CEDER O SEU LUGAR PARA ESSA SENHORA???”. Não porque quero ser algum tipo de heroína, mas porque poucas coisas me doem mais o coração do que ver uma pessoa idosa tentando se segurar em um ônibus estourando de gente, enquanto uns e outros fingem estar dormindo para não liberar lugar.  

Também me incomodo com pessoas que sentam no banco do corredor e fazem cara feia quando você pede para sentar do lado. Ou quando estou em um ônibus com váaaaarios bancos vazios e alguém resolve sentar comigo. Ou quando todas as janelas estão fechadas e várias pessoas estão tossindo, escarrando e espirrando como se fosse um concurso de quem consegue fazer mais barulho e ser mais escatológico. Ou quando eu mal entrei e o motorista arranca e eu quase caio. Ou quando é de manhã cedo e algumas pessoas já estão cheirando mal. Ou quando eu olho pra todas as pessoas com suspeita e medo que elas sejam um bandido que vai levar meu celular embora. 

No entanto, em meio à selvageria que impera sob a direção do indiferente motorista, ainda existem motivos de admiração nos ônibus da vida. 

Eu tenho uma fascinação real por aquelas pessoas que conseguem dormir tranquilamente dentro do ônibus e acordar exatamente no ponto em que vão descer. Interessante mencionar aqui que nem todas as pessoas dormem com classe – já vi gente babando de boca aberta e/ou deitado no ombro do colega do lado, o que não é chic – mas vamos nos ater ao ato de dormir em si, e não na forma em que isso é executado, ok?   

Acredito que pessoas que dormem no ônibus e acordam no lugar certo são privilegiadas e não dão o devido valor a esse dom. Elas podem ser enquadradas naquele grupo de pessoas que fazem uma coisa pela primeira vez e mandam MEGA BEM – ganham todo o dinheiro no pôquer, fazem o melhor bolo do universo, descobrem que são o novo Romero Britto e por aí vai. 

Gostaria de saber qual a ciência disso. Há um lapso em que a pessoa simplesmente desperta? Um anjinho aparece no sonho e diz que está na hora? Ou essas pessoas simplesmente programam o despertador para não vacilar? (Gosto da ideia do anjinho, mas o despertador me parece estranhamente mais plausível). Se você que está lendo faz parte dessa classe com tamanho talento, me conte qual o segredo, por favor. 

Afinal, se eu dormir no ônibus é muito provável que acorde em qualquer outro lugar, menos aquele onde gostaria de ir. Tipo, sei lá, Lindolfo Collor. 

Enfim.

Outra coisa bacana no ônibus é escutar música, olhar pela janela e viajar em roteiros que você gostaria que sua vida tivesse. Eu não vou julgar se, na intimidade, você deseja estar dançando no meio do corredor do busão, fazendo dueto com o cobrador e girando como se estivesse em um pole dance. Ouvir música dentro do ônibus faz com que você tenha essas viagens muito loucas. 

Até que entra um bandido e leva seu celular embora.  

Um comentário:

  1. Eu adotei a tática de programar o despertador do celular...eu calculo o tempo de viagem aproximado e voilá, dá certo.

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