9 de jul. de 2016

Pudim

Às vezes ela acorda com vontade de se esconder dentro do bolso daquela saia vermelha comprada no brechó. Pequena, com medo, sem conseguir ver a luz lá no fundo do túnel – que tanto dizem que existe. Ficar andando no breu à procura de uma ínfima réstia de luminosidade parece tão exaustivo, ainda mais para ela que nunca havia gostado de escuridão. 

Outras vezes ela acorda com um sorriso que fica tal e qual um pedaço grande e gelado de melancia. O formato. Até o sabor, quem sabe, se formos pensar naqueles chicletes de fruta que ela tanto gosta. O coração bate acelerado e com vontade de viver tudo ao mesmo tempo agora. É nesses dias que ela acredita que a vida é uma folha em branco, toda pronta para ser colorida com canetinhas de glitter. 

Ela sabe, porém, que esses começos de dia variam. Às vezes um gole de café mais amargo que o habitual já leva embora o doce frescor da vontade. Uma palavra dita na hora que não era esperada, uma crítica que aparece sem nenhuma sugestão para transformar as coisas em algo melhor.

Daquelas coisas que não saem da cabeça. Será que pra todo mundo é assim? Uma gangorra de emoções tão conflitantes? Os dias bons levam embora o nublado dos ruins. Mas quando esses chegam, há um temporal. A precipitação de água vem na forma de gotas salgadas que descem pelo seu rosto. Nunca foi comprovado que chorar sozinho no quarto resolvesse alguma coisa, mas parece que limpa um pouco o doído do coração. 

Uma amiga dela disse, certa vez, uma frase que nunca foi esquecida. Hoje ela parece fazer mais sentido do que nunca. 

- Quer moleza? Senta no pudim.

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