9 de jul. de 2024

Tudo sobre o meu congelamento de óvulos - injeções, valores e afins

2024 é o ano em que eu completo 35 anos. Idade que, dizem, é decisiva para as mulheres: já passou da hora de ter filhos. Com a intenção de entender como estava meu corpo e minha fertilidade, visitei minha ginecologista logo em janeiro. Ela pediu muitos exames. Muitos mesmo. Entre eles, o antimulleriano. Foi a partir dele que me dei conta de que, embora tenha um rostinho de 33 anos (kk), a idade realmente me pegou.

Com uma reserva ovariana bem abaixo do esperado (0,77), me vi diante do dilema: queria ter filhos agora ou iria torcer para minha reserva não despencar ainda mais com o passar do tempo? Eu tenho um relacionamento estável, moro com meu noivo, pensamos em ter filhos sim. Mas não queremos fazer nada correndo, nada às pressas. Então, resolvi optar por uma terceira via: congelar meus óvulos e, assim, ter mais uma oportunidade de gestar no futuro.

Pesquisei no Google e encontrei a Clínica Insemine, que tem consultório em Novo Hamburgo e a sede em Porto Alegre. Me apaixonei pelas médicas que atendem lá, tirei minhas dúvidas, especialmente sobre o preço, e decidi: vou fazer! Bora congelar o que der!

Como foi o meu processo de congelamento: a estimulação

Com a canetinha de Puregon, companheira de vários dias

Eu li muito sobre o assunto. Tanto que poderia tranquilamente fazer uma palestra de uma hora falando sobre congelamento, sério mesmo. Mas, aqui, vou trazer o meu relato pessoal. Sem ciência ou muito embasamento, e sim da forma que vivi. Caso você queira ler mais profundamente sobre o assunto, recomendo muito este artigo aqui, completíssimo. Agora, vamos ao que interessa.

Nosso corpo libera normalmente apenas um óvulo por mês e a ideia para ter ovinhos para congelar era liberar bem mais. Então, o primeiro passo do processo todo é a estimulação ovariana, que é feita por meio de medicação - injeções de hormônio.

No terceiro dia do meu ciclo menstrual (21 de junho), fiz uma ecografia para avaliar o endométrio e os folículos, e comecei as aplicações de Puregon. É uma canetinha com uma agulha fininha, tipo aquelas de aplicar insulina (ou Ozempic hehe).

A ideia é que a pessoa aplique nela mesma, na parte de baixo do umbigo. Eu até fiz uma tentativa, mas fiquei tão ansiosa que minha pressão despencou e eu quase desmaiei no chão da cozinha. Então, meu noivo passou a aplicar em mim diariamente, sempre no mesmo horário. É importante seguir isso à risca.

Nesse mesmo sábado, fiz também os exames de sangue que são obrigatórios: sorologia para HIV, HTLV, sífilis, hepatite B e C. 

Na terça-feira (25 de junho), fiz mais uma ecografia para verificar se os folículos estavam respondendo à medicação. Sucesso, estavam. Inclusive, com mais quantidade do que era esperado para a minha reserva ovariana. Fiquei confiante.

Na quarta-feira, além de aplicar o Puregon, passei a aplicar Orgalutran. Mais uma injeção, essa um pouco mais dolorida do que a outra, mas nada insuportável. Assim foi até sábado, 29 de junho, quando fiz a terceira ecografia. Alguns folículos já estavam quase do tamanho certo para a punção, e outros ainda precisavam crescer um pouquinho mais.

Injeções de Orgalutran

No domingo (30 de junho), apliquei uma injeção de Menopur, porque as minhas doses de Puregon já tinham acabado e essa é um pouco mais barata (em breve vou chegar na parte de valores, prometo). Na segunda-feira, voltei para o consultório e fiz a última ecografia. Estava com 5 folículos do tamanho certo para a punção, então marcamos o procedimento para a quarta-feira (03 de julho). Na noite de segunda, exatamente às 21:30, apliquei 2 doses de Gonapeptyl e 1 de Ovidrel. Precisava ser assim, bem certinho, 36 horas antes do procedimento.

O que posso dizer sobre a indução é que é chato. Levar injeção na barriga pode não ser dolorido, mas também não é agradável. Fora que é por vários dias, mesmo horário, etc. Mas passa bem rápido.

O dia da coleta dos óvulos

Eu indo congelar meus óvulos

Fora o jejum total de 8 horas e a aplicação correta dos medicamentos, não é preciso nenhum preparo específico para o procedimento. Cheguei lá na hora marcada, coloquei o aventalzinho que fica com a bunda de fora e fui para a maca. Chegou o anestesista do meu lado:

- Eu sou o doutor fulano, o anestesista que vai te atender hoje.

- Eu vou dormir, doutor? - perguntei.

- Aaaah, vai - respondeu ele.

Tomei a anestesia e fui curtir uma breve sonequinha. Breve mesmo - não dura nem meia hora o processo. Acordei, fui andando para o quarto, tomei um copo de água e, como não estava sentindo dor alguma, fui liberada.

Passei no consultório com a médica e ela me disse que tinham sido coletados 10 óvulos, mas que eles ainda seriam analisados. Isso porque nem todos os óvulos coletados são maduros ou estão aptos para o congelamento. Daí, me orientou a não fazer atividade física, nem ter relações nas 24 horas seguintes, além de não dirigir ou trabalhar naquele dia por causa da anestesia. Fui para casa, obedeci à doutora e passei a tarde jogando The Sims kkkkk. Senti um pouquinho de dor e tomei um Buscopan. Nada intenso ou preocupante. Logo passou.

No dia seguinte, fiquei sabendo que todos os 10 óvulos coletados estavam maduros e é isso: agora tenho 10 óvulos congelados e poderei usá-los quando quiser, futuramente. 

Meus 10 óvulos

Pelo que li, uma quantidade satisfatória de óvulos é entre 8 e 15. Fiquei feliz com os meus 10, porque no fundo eu achei que conseguiria bem menos. Há mulheres que não conseguem nenhum óvulo maduro na primeira coleta, ou um número bem baixo, e precisam passar por tudo de novo mais vezes. Acontece bastante, e eu já estava me preparando mental e financeiramente para ter que repetir, se precisasse.

O que acontece agora?

Agora, meus óvulos vão ficar lá, congelados, até o momento que eu decidir usá-los - ou seja, ter filhos. Quando eu optar por isso, terei que passar pela fertilização in vitro, famosa FIV.

Mas não existe uma data de validade. Posso usá-los no ano que vem, em 2030 ou quando quiser. Eles seguirão sendo óvulos de uma mulher de 34 anos, mesmo que eu resolva fertilizá-los nos meus 50. E, caso não queira usar, posso doá-los. Acho uma linda opção também.

Como me senti durante o processo todo

São esperados alguns sintomas junto com a estimulação ovariana, já que é uma quantidade brutal de hormônios. Eu não tive tantos assim.

No terceiro dia eu senti como se fosse uma TPM e fiquei com vontade de chorar quando meu noivo disse que não queria ir comigo à academia. Mas acho que foi mais o meu lado canceriano do que qualquer coisa. E fui na academia mesmo assim.

Por volta do quarto dia, comecei a ficar muito enjoada, sem vontade de comer nada. Isso durou uns 3 dias, mas tomei Vonau e fiquei de boa.

Durante todo o período, tive muita retenção de líquidos. Bebia muita água, como já costumo fazer, e urinava quase nada. Também fiquei com a barriga levemente inchada - tipo quando a gente não vai ao banheiro há 2 dias, sabe?

Nos últimos dias antes do procedimento, senti um desconforto nos ovários - afinal, eles estavam bem maiores do que o normal. E esse desconforto continuou até uns 3 dias depois da coleta.

Amanhã faz uma semana e já me sinto 100%. :)

Quanto custou o congelamento de óvulos

Aqui está a pergunta que mais recebi quando contei sobre o congelamento: quanto custa essa brincadeira? Vou dizer que não é barato, mas também não é tão caro quanto eu esperava. Na minha cabeça, giraria em torno de 30 mil reais. Foi bem menos;

O que gastei:

  • Medicamentos: R$ 7.484,50 (são importados e vendidos somente em locais específicos)
  • Consultas, ecografias, atendimento médico, o procedimento em si: R$ 8.000,00 
  • Anestesista: R$ 700,00 
  • Exames de sangue: R$ 800,00 (não fiz pelo plano de saúde porque ia demorar para autorizar, mas é uma possibilidade) 
  • Ubers: R$ 500,00 (considerando que tive que ir em muitas consultas para ecografias, até mesmo em Porto Alegre)

Então, gastei no total R$ 17.484,50. Arredondando, 18k. E vou precisar pagar mais R$ 1.200,00 por ano como taxa de manutenção dos óvulos (o aluguel dos póbi kkk).

É uma boa grana, sim. Com ela eu poderia ter feito um procedimento estético, comprado coisas legais para minha casa, viajado, etc. Porém, era algo que eu queria muito e que eu não poderia deixar para depois. Então, priorizei, me organizei e fiz. As viagens e botox ainda virão haha. E não me arrependi nada. Só de talvez não ter feito isso tudo antes.

Quem deveria fazer o congelamento?

Se você está na faixa dos 30 anos, recomendo que comece a pensar nesse assunto. Não, não precisa ir correndo congelar os óvulos também. Mas vale avaliar como está a sua reserva ovariana e quais são os seus planos. Quer ter filho logo? Não sabe se quer? Quer ter tempo para decidir depois? Talvez ter o primeiro naturalmente, mas planejar melhor o segundo ou terceiro? Isso precisa ser levado em consideração.

Por mais que hoje em dia muitas mulheres estejam deixando a maternidade para mais tarde, infelizmente o nosso corpo não acompanha. Depois dos 35, vai baixando rapidamente a quantidade dos óvulos e a qualidade deles também. Por isso, é ótimo ter opções como o congelamento.

Enfim, espero que com esse relato eu possa ajudar você que já considerou ou está considerando esse assunto. Se faltou alguma coisa neste post, pode deixar nos comentários que eu respondo. :) 

Um beijo e até a próxima.