12 de jun. de 2020

A vacina não dói nada

"A vacina não dói nada. Tu é homem ou não é?"

Moro do lado de uma casa de vacinação. Durante essa campanha de vacinas da gripe, ouço diariamente crianças chorando - mesmo daqui do quinto andar. E muitas vezes é possível ouvir os pais encorajando os pequenos, avisando que não vai doer, que é só uma picadinha, enfim. No entanto, hoje ouvi essa frase ali acima: "A vacina não dói nada. Tu é homem ou não é?" dita de um pai para uma criança muito pequena. Fiquei com pena desse menino e pensei nisso a tarde toda.

Não é pena por causa da vacina, que vai fazer bem pra ela no final das contas. Mas por, desde pequena, a criança ter que lidar com sentimentos “como homem”. Esconder o medo, esconder as lágrimas, as fraquezas, tudo para seguir um modelo imposto pelo seu pai – que também deve ter ouvido o mesmo de outras gerações anteriores.

Muito mais do que uma frase, “homem não chora” é machista, é uma ideia velha, é algo que precisa mudar. É aquele conceito de que são as mulheres que choram, que são medrosas, que fazem escândalo. Homens engolem em seco e encaram. Essa coisa de sentimentos não é bem-vinda no universo masculino.

“Tu é homem ou não é?”. O que deve ter passado pela cabeça do menininho, nesse mundo em que as pessoas agora precisam usar máscaras na rua, tendo que ir levar uma agulhada no braço? Sem saber exatamente o que esperava por ele? Pobrezinho.

Da próxima vez, vou pegar meu megafone e gritar umas poucas e boas pra esses pais aí.

 

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