1 de mai. de 2020

Reflexões da pandemia

É curioso notar como a pandemia do coronavírus mudou coisas que eram tão comuns no nosso cotidiano. Tipo a questão de ir no supermercado.

Eu sempre morei bem perto de mercadinhos e na minha vida era comum ir buscar rapidinho alguma coisa que estava faltando enquanto o almoço era preparado – opa, busca lá um requeijão, um refrigerante, coisas assim. Agora é tudo bem diferente.

Na última vez que eu saí de casa para ir ao supermercado, faz um mês, ainda não era obrigatório o uso de máscaras aqui em Novo Hamburgo. Então, enquanto algumas pessoas estavam com proteções no rosto e luvas, outros clientes – eu entre eles – estávamos com olhares cautelosos, mas rostos descobertos.

Hoje, fui ao supermercado acompanhada de duas novidades: uma máscara preta e um carrinho de feira. O carrinho se mostrou um item fundamental para uma pessoa como eu, que prioriza fazer tudo andando. Foi ótimo poder ir carregando com facilidade as compras do mês pra casa. Já a experiência com a máscara me trouxe muitos pensamentos.

Sim, ela esquenta, abafa, todas aquelas reclamações. Mas, além disso, a máscara nos rouba muito da expressão. Da expressão de diversão enquanto um carrinho pesado é manobrado, de desculpas quando há um esbarrão, até mesmo de impaciência quando alguém está bloqueando todo o corredor. Tentamos nos expressar em olhares, sobrancelhas erguidas, piscadelas.

E falando em olhos, tive que fazer compras sem usar óculos, lendo rótulos daquele jeito quase colado nas vistas. Se alguém sabe uma forma de usar a máscara e não ficar com os óculos embaçados, pode me ensinar.

O recomendado é a gente não falar muito enquanto usa a máscara, porque ela fica úmida. Então, me mantive calada a maior parte do tempo que estava fazendo compras. No entanto, já que o sorriso estava guardado, fiz questão de ser muito gentil e carinhosa com todos com quem falei. Foi um animado OLÁ, COMO VAI para o cara que mediu minha temperatura na entrada do supermercado, um BOM DIA PARA A SENHORA para a moça que colocou álcool gel nas minhas mãos, um OBRIGADA, ÓTIMO DIA DE TRABALHO para a menina do caixa. Em tempo de medo e rostos fechados, acredito que a gentileza se mostre cada vez mais necessária.

Sempre gostei de ir ao supermercado quase de noite, já pensando em uma taça de vinho e um bom jantar. Dessa vez, fui bem cedinho, logo após o horário destinado aos idosos. Na minha cabeça, sem embasamento científico nenhum, criei que nesse horário as coisas estão “menos contaminadas”. E amei ver uma vovó de máscara florida saindo com um carrinho cheio de cerveja.

E, após toda essa saga, ainda há o incrivelmente chato trabalho de higienizar cada coisa, incluindo as sacolas plásticas. Ensaboando um pacote de batata palha, me peguei pensando se um dia a vida vai voltar a ser como já foi um dia.

Escrevo isso não com alguma conclusão, mas sim para deixar registrado esse momento que estamos vivendo. Minha ideia é, daqui uns anos, reler esse texto e poder dizer: nossa, lembra como foi maluca aquela época daquele vírus? Que bom que passou. E que estamos todos bem. ♥