Eu já queria ter falado sobre isso aqui no blog há bastante
tempo. Mas com as frustrações da vida, a correria da rotina e todas essas
coisas, acabei me esquecendo. Então, numa conversa com um casal de amigos nesse
final de semana, tudo voltou à tona. Hoje, caros leitores, eu vou contar para
vocês sobre o drama do doce de leite perdido.
Como vocês já sabem, passei férias na Argentina em julho
desse ano. Já contei algumas coisas aqui no blog – e confesso que também já
deveria ter postado mais sobre isso. Enfim. Passeei em Buenos Aires, comemorei
meu aniversário lá, passei dias lindos e maravilhosos. Fiz umas comprinhas e
outras, já que ninguém é de ferro, e passei pela maratona que é voltar pra
casa. Tentar enfiar tudo na mala, com medinho de ultrapassar o peso permitido. Ficar
sentada sem glamour no chão do aeroporto, esperando o embarque. Passar pelo
free shop e torrar as últimas moedas internacionais – mulher consumista é fogo.
Esperar pelo voo, que se atrasou mais de uma hora. E, enfim, voar de volta pra
casa. Ao desembarcar em Porto Alegre e resgatar sem problemas a minha mala na
esteira (confesso que sempre fico tensa nessas horas, e olha pra todos meus “amigos
de voo” como potenciais inimigos, ávidos para dar novos destinos à minha
bagagem – por mais desinteressante que ela seja), já me considerava uma grande
vitoriosa. Viajando com amigas, sem guia nem nada, com pouca grana e muita disposição.
Mas é aí que vem a vida e chuta meu joelho.
- Vocês três, por aqui.
- Mas.. Mas... Não tenho nada a declarar!
- Por aqui.
Justamente na hora que estávamos praticamente com o pé pra
fora da área de embarque, fomos encaminhadas para uma salinha lateral, onde
fomos orientadas a colocar as malas naquelas esteiras rolantes.
- Meninas, vocês estão voltando da Argentina, não é? – disse
o tio da salinha estranha.
- Simmm – respondemos nós três, felizes. Até então, não
sabíamos o que nos esperava.
- E vocês compraram e trouxeram doce de leite?
- Simmm – respondemos, ainda felizes.
- Então podem abrir a mala e colocar tudo pra fora.
- QUE? Eu vou ter que jogar fora? – disse eu, compreendendo
a situação.
- Tu não. Nós vamos jogar fora pra vocês.
E foi aí, meus leitores, foi que eu descobri que não é
permitido trazer produtos de origem animal para o Brasil. E que eu sou uma
pessoa muito azarada. Afinal de contas, muita gente traz essas coisas. São ótimos
regalos para parentes e amigos – quem não quer comer um pouquinho de doce de
leite portenho?
Foi um enorme de um constrangimento ter que abrir as malas e
narrar o que tínhamos dentro delas. Sem falar no transtorno, já que fechar elas
havia sido complicado.
Tiramos “as drogas” das malas. Com um prazer enorme, o tio
malvado abriu os potes de doce de leite e enfiou uma faca em seus rótulos,
violando sua doce pureza. Tenho quase certeza que eles devem recolher tudo e
levar pra casa depois.
Fiquei chocada, chateada, com raiva, um mix de sentimentos
rodopiando pela cabeça. Estava à beira das lágrimas. Talvez tenha até deixado
uma escapar pelo cantinho do olho. Não pela perda do doce de leite em si, mas
pela situação toda. Vendo a comoção, o tio malvado disse que não era para
ficarmos chateadas, já que estava fazendo aquilo pelo nosso bem. Afinal de
contas, poderíamos estar trazendo a doença da vaca louca para o solo
brasileiro. SÉRIO, esse foi o motivo que ele deu. E ele ainda disse que
tínhamos que ficar felizes – se estivéssemos em um país como os Estados Unidos,
ainda teríamos que desembolsar 100 dólares de multa. Eu, hein?
- Tô muito triste. Era um presente para o meu pai – disse,
numa cena de dar pena.
- Não se preocupa. O melhor presente para o teu pai é te ter
de volta em casa.
Não tinha mais o que dizer depois dessa, né? Voltei pra casa
um tanto quanto incomodada com essa história toda. Até que lembrei das duas
garrafas de licor de doce de leite que estavam na mala e o tio malvado nem viu.
NICOLE WINS.
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