- Não sei o que me deu nesses últimos meses. Nesse ano, em
grande parte. Parece que eu vivi com uma venda nos olhos. Tá me ouvindo? Uma venda
que me impediu de ver muita coisa. Fiquei alienado. É, alienado. Vivendo naquele
mundinho da minha cabeça, que acreditava que todo mundo era bom demais, só
querendo simpatia e elegância. Só que a venda desamarrou, sabe? Essas coisas
sempre acontecem. As máscaras caem, o gelo derrete e deixa aquelas gotas
nojentas do lado do lado de fora do copo.
- As gotas não são nojentas. É um fenômeno que acontece. Assim
como são as coisas, também são as pessoas. O mundo não é um arco-íris, cara. E tu
demorou pra ver isso, hein?
- É. Dormi no ponto. Acreditei nelas. Nas pessoas, eu digo. E
agora vi como existe mesquinharia, falsidade, ciúme. E ciúme de tanta coisa...
Tanta coisa boba! E as pessoas fingem. Viver uma realidade fingida é viver uma
vida plena? O que acontece quando os que fingem estão sozinhos? Continuam fingindo
ou vivem o vazio? Ou continuam postando as fotos e querendo continuar a farsa? Gente
ruim que finge ser do bem. Gente que faz coisas tão baixas que não dá pra
acreditar. Gente que é pobre de tudo - e não tô falando de dinheiro. Saca? Essas
coisas me deixam puto.
- Mas é assim que elas são.
- Não me venha com conformismos. Eu não vou ser assim. Eu
não SOU assim. Eu não quero aceitar isso. Fingir. Não ser. Não estar. Aquelas realidades
inventadas que não representam aquilo que o poetinha dizia.
- Então basta não se associar aos que fingem. Aos que não
são.
- É. Mais um daqueles itens para o ano que vem. Há de ser O
ano. Criar laços e desatar nós. Porque os nós apertam, enquanto os laços
enfeitam. E jogar fora todas as vendas.
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